Indignação: Saída da UERGS gera revolta na comunidade

por adm publicado 10/11/2022 15h10, última modificação 10/11/2022 15h07
Uergs foi criada ela deveria resguardar o direito da descentralização do ensino superior público

Um processo feito “as escuras”, assim foi definida a ida da unidade montenegrina da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul para Porto Alegre. “Estou indignado e revoltado. Fomos avisados pelos órgãos de imprensa. Jamais pela reitoria da instituição. Somos conhecidos por termos o título de cidade das artes, mas nossa população de mais de 60 mil habitantes não foi ouvida. Estamos numa região com mais de 180 mil pessoas, que também não foram ouvidas. E todo o processo foi feito às escuras, por pessoas com interesses próprios que não pensaram nos nossos alunos, na nossa comunidade”, destacou o presidente da Câmara de Vereadores que esteve, junto com os parlamentares Ari Müller, Juarez Vieira da Silva e Paulo Azeredo na reunião realizada na Fundarte com o reitor interino Fernando Garagna.

O encontro foi proposto pela Fundarte que também foi pega de surpresa sobre a situação. “Não nos avisaram de nada sobre a saída da Uergs daqui. Soubemos pela imprensa da decisão da reitoria. E é bom lembrar que não reajustamos os valores de aluguel nos últimos 10 anos, justamente para colaborar com a continuidade do campus na cidade e, ainda, abrimos mais espaço para a Uergs”, comentou a diretora da Fundação, Julia Hummes.

Em sua fala Fernando Garagna enfatizou que acha difícil a reversão do processo. Contudo acredita ser justo fazer movimentos que possam sensibilizar o Conselho da Universidade para a manutenção do campus em Montenegro. “O processo passou pelo conselho superior da Uergs e fomos todos pegos de surpresa. Isso aconteceu por conta da instalação de um novo campus da universidade em Porto Alegre. Foi feita uma comissão, com professores da unidade aqui da cidade, solicitando essa ida. Esse decreto já está feito e achei que a Fundarte soubesse disto”, ressaltou o reitor.

Durante o encontro, o vereador Paulo lembrou a Lei nº 11.646/01, que cria a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. “Ao que nos consta essa lei não foi alterada. Se a lei não foi mudada, a Uergs não pode sair daqui. Ela é multicampi. Estão vendo apenas a posição dos professores que querem ficar em Porto Alegre, mas e como fica a descentralização da universidade como está prevista em lei? Tem uma lei que precisa ser respeitada e não está sendo. Então todo o processo de retirada daqui de Montenegro é nulo. Tem que seguir as regras”, lembrou o parlamentar.

Quando a Uergs foi criada ela deveria resguardar o direito da descentralização do ensino público. Ao ser comunicada, da vinda de um campus para Montenegro, a comunidade abraçou a instituição e as escolas abriram espaços para que os primeiros alunos pudessem fazer seus estágios. Entre estes alunos estava Débora Primaz, hoje representante do Conselho Municipal de Cultura. “Queremos saber como a nossa comunidade também pode chegar neste conselho, que decidiu pela saída da Uergs de Montenegro para que possamos contrapor esta negociação que foi feita, levando em conta apenas interesses pessoais, e não de toda uma comunidade”, frisou.

Além de Débora, outro ex-aluno e agora professor do curso de Dança da Fundarte, Patrick Morais, participou da reunião. Para Patrick a Uergs foi criada para descentralizar o ensino. “Meu questionamento é o que vamos fazer com todos os alunos da nossa região que tem interesse em formação na área das artes? De Marata, Pareci Novo, Taquari, Montenegro e de outros municípios próximos daqui. Como ficam estes alunos? Estudantes do interior vão ficar de fora? A decisão foi baseada em assegurar o direito só dos alunos e professores de Porto Alegre, que já tem uma universidade federal, mas e o restante, os alunos do interior do Estado aos quais a Uergs se propôs em apoiar, como ficam? Como vai ser o deslocamento de todas estas pessoas até a Capital? Lá, a universidade será só mais uma”, destacou Patrick.

De acordo com o prefeito Gustavo Zanatta, uma reunião está agendada com o governo do Estado para a próxima semana no intuito de reverter a atual situação. “Vamos levar adiante nosso contraponto. É uma mobilização de professores que não querem vir pra cá. Mas agora é nossa vez de dizer que vamos lutar e não deixar este processo ser pessoal. Se não tá feliz aqui, conosco, pede pra sair”, ressaltou o prefeito.

Segundo o presidente Talis todas as ações possíveis serão feitas no intuito de deixar a unidade em Montenegro. “Se precisarmos ir ao presidente da república, nós vamos. Mas não vamos abrir mão da universidade que é tão importante na formação de novos professores. Não existe um movimento contrário da cidade na permanência da universidade. Nós queremos a Uergs e não vamos abrir mão, assim, tão fácil”, destacou com indignação o parlamentar.

A previsão, caso aconteça, de retirada da universidade já está prevista para o ano que vem. A partir de março a Uergs não receberá nenhum aluno em Montenegro se a situação não for revertida. Os universitários que já estão no polo montenegrino estão com direito assegurado de permanecer aqui até a formatura.